Depois de uma ligeira, porém longa investigação cinematográfica sobre as dinâmicas do amor nas relações, com os ciclos Amores de Perdição, Amores de Salvação, e mais recentemente, Amores de Arrebatamento, exibido no início de janeiro, continuamos a nossa busca emocional no Dia dos Namorados. Depois do ciclo O Amor Não é um Palíndromo, explorado no último fim de semana, chegamos agora a um momento de celebração: existe algo mais belo do que observar dois corpos em perfeita harmonia, a dançar? Ou ainda, reconhecer-nos nesse movimento, nessa linguagem partilhada entre dois seres que se encontram?

A dança é, talvez, a mais poderosa das metáforas para o amor que flui. Tal como a vida em casal, ela exige presença, sintonia e a capacidade de ceder ao ritmo do outro sem perder o nosso. É na procura deste encaixe, deste sincronismo aparentemente impossível, que se constrói uma relação. "Silver Linings Playbook" (2012), de David O. Russell, e "La La Land" (2016), de Damien Chazelle, apresentam-nos dois universos distintos onde a dança se torna símbolo e expressão deste encontro entre indivíduos únicos que aprendem a partilhar um só ritmo.

Desde tempos imemoriais, a dança tem desempenhado um papel central nas tradições que celebram o amor e a união. Em muitas culturas, a dança esteve presente nos rituais de matrimónio, simbolizando a harmonia e o compromisso entre os noivos. As danças nupciais medievais na Europa, ou as celebrações africanas e asiáticas, utilizam o movimento para representar o equilíbrio e a cooperação necessários para a vida a dois. Também na Grécia Antiga, Platão e Aristóteles destacavam a dança como uma forma de equilíbrio entre corpo e alma, uma ideia que ecoa na busca de harmonia entre dois seres numa relação amorosa.
A dança, no entanto, não é apenas uma tradição: é também um instrumento de transformação. No campo da terapia de casais, a dança tem sido usada como uma ferramenta poderosa para fortalecer a relação. Desde as práticas de dança de salão, que promovem a colaboração e a comunicação não verbal, até à abordagem terapêutica de Gabrielle Roth ou Marian Chace, o movimento é visto como um meio de desbloquear emoções e criar novos ritmos de convivência.

Nos dois filmes selecionados, vemos como a dança transcende o movimento físico. Em "Silver Linings Playbook", Pat e Tiffany utilizam a dança como um espaço de cura e renovação, provando que o amor pode florescer mesmo entre imperfeições. Em "La La Land", Mia e Sebastian apresentam uma coreografia de sonhos e desencontros, lembrando-nos que o amor é tanto sobre aquilo que criamos juntos quanto sobre o que inspiramos no outro, mesmo quando os caminhos divergem.

Assim, ao celebrarmos o Dia dos Namorados com este ciclo, refletimos sobre o simbolismo da dança como linguagem universal. Ela representa a busca pelo encaixe entre dois seres únicos, numa coreografia onde autonomia e conexão coexistem. Porque amar, no final de contas, é isso: entrar no ritmo do outro sem perder o nosso, criando juntos uma melodia única e inesquecível.

(Curadoria de Alexandre Braga)