Nós e a Sala de Cinema (II)

No final de Julho tivemos a oportunidade de visitar a Grotte Chauvet 2 - uma cópia da Caverna Chauvet-Pont d'Arc, no sul de França. E ficámos a pensar: Será que a Caverna Chauvet-Pont d'Arc foi uma das primeiras salas de cinema do homem moderno?

Graças a sua grande coleção de pinturas rupestres e ao excelente estado de conservação em que foi descoberta, a Caverna Chauvet-Pont d'Arc é, indiscutivelmente, o local de arte pré-histórica mais importante do mundo.

Ao contrário de outras importantes cavernas com arte parietal, como Altamira ou Lascaux, a Caverna Chauvet-Pont d'Arc nunca foi aberta ao público. Durante 36.000 anos, as pinturas que lá se encontram foram preservadas graças ao desabamento da entrada da gruta há 25.000 anos, o que encerrou a possibilidade de aceder o seu interior nesta altura. Este encerramento possibilitou à gruta a criação de um microclima próprio, responsável pela excelente preservação do espólio artístico, que se verifica até hoje.

A Grotte Chauvet 2 é uma cópia da caverna original - sem qualquer conotação pejorativa, muito pelo contrário. Visitar a Grotte Chauvet 2 recria a magia e as condições da caverna original. Em meio às estalagmites e estalactites, os sublimes desenhos de animais, feitos por diversos artistas paleolíticos, emergem do escuro. A atmosfera fresca e húmida recria fielmente os sons e cheiros da caverna, proporcionando uma experiência absolutamente envolvente, de arrebatamento.

Segundo Morin, “o escuro [é] um elemento tônico para a participação [com a obra].” A obscuridade isola o espectador, empacota-o de escuro e dissolve as suas resistências diurnas, acentuando todo o fascínio das sombras. Morin afirma, ainda, que, “o espectador das “salas escuras” […] é um sujeito passivo em estado puro. Ele não pode fazer nada, nem oferecer nada, nem sequer um aplauso. Passivamente, ele passa o momento. Subjugado, ele sofre o momento e, de repente, tudo acontece dentro dele (…)” (Morin, 1970: pg. 122)

Voltemos a questão: será que a Caverna Chauvet-Pont d'Arc foi uma das primeiras salas de cinema do homem moderno? Ora, acerca do assunto, vale salientar que o artista paleolítico não se contentava em simplesmente reproduzir imagens de animais ou símbolos nas paredes das cavernas. Ele procurava trazê-los à vida, representando-os em movimento.

TO BE CONTINUED…


Edgar Morin in “O Cinema ou o Homem Imaginário”, com primeira edição de 1956.

https://archeologie.culture.fr/chauvet/en/grotte-chauvet-2-ardeche

https://artsandculture.google.com/story/XgWxpamuYC7XMw

https://www.cambridge.org/core/journals/antiquity/article/animation-in-palaeolithic-art-a-preecho-of-cinema/50BB05A3FDED8AC8CB5F5126249090F9

Imagem: https://artsandculture.google.com/asset/horses-panel-chauvet-cave-l-guichard/EAFt0_050-lJCQ

Anterior
Anterior

A ‘tal’ árvore do Ai Weiwei

Próximo
Próximo

Nós e a Sala de Cinema (I)