A ‘tal’ árvore do Ai Weiwei

Ouve-se falar por aí: -Já foste ver a árvore do Ai WeiWei na Serralves? O tom é quase quotidiano e descompromissado…
Mas ao olhar para esta árvore e saber um pouco da ‘backstory’ da obra, temos que nos render a potência realizadora de um artista, que carrega nas costas (como todos) a urgente transformação do mundo mas, ainda o estigma negativo do que o seu país de origem têm dado ao mundo nas últimas décadas.

PEQUI TREE [PEQUI VINAGREIRO], 2018-2020

A obra Pequi Tree demorou três anos a realizar. Durante uma viagem de investigação à América do Sul em 2017, Ai Weiwei encontrou um magnífico pequi — uma árvore nativa do Brasil —, um exemplar com mais de 1200 anos. Localizada na Mata Atlântica, a árvore que parecia morta estava oca. Em 2018, o artista e a sua equipa foram para a floresta para realizar moldes em plástico reforçado com fibras de toda a árvore, tanto do interior como do exterior. A totalidade do molde, dividido em segmentos, foi transportado para os condados de Tang e Yi, na província de Hebei, na China, para ser subsequentemente fundido e soldado. Cerca de 100 pessoas participaram neste processo.
Esta obra de arte irreplicável é provavelmente a mais complexa que Ai Weiwei jamais criou em termos de volume de trabalho, mão de obra e tempo de feitura.

Fonte: https://www.serralves.pt/ciclo-serralves/2107-ai-weiwei-entrelacar/

Na Fundação Serralves, o contexto é criado assim: ‘Entrelaçar’, esta parte da exposição de Ai Weiwei apresenta Iron Roots [Raízes de ferro], 2019, e Pequi Tree [Pequi vinagreiro], 2018 -2020, trabalhos que refletem a preocupação do artista com o ambiente e, mais especificamente, com a desflorestação da Mata Atlântica brasileira. A exposição aborda o conceito de árvore como fenómeno biológico e como metáfora. As árvores surgiram na prática artística de Ai Weiwei pela primeira vez em 2009, quando apresentou cerca de cem enormes raízes e segmentos de árvores do sul da China na Haus der Kunst, em Munique. ‘Árvore’ enquanto conceito, toca no âmago da noção de domínio humano sobre o mundo natural, do impacto da globalização nos ecossistemas e na pegada ecológica humana na Terra.
Todos os trabalhos em ferro foram moldados no Brasil e fundidos na China para serem finalmente apresentados na Europa, todo o processo abrangendo três continentes. Pequi Tree, a mais recente obra de Ai, será apresentada pela primeiríssima vez no Parque de Serralves: uma árvore que passou de madeira a metal, de mortal a eterna, como elemento de prova e como monumento.

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