
Pensamentos sobre uma filosofia da imagem III: “A imagem como dissolução do sujeito”
Jovens e Adultos
Com Alexandre Braga
“A imagem como dissolução do sujeito”: THE CROWD, de King Vidor [ 1928 | 1h39’ | US ]
“The Crowd” implode o mito da grandeza individual para nos forçar a perguntar: o que é uma imagem quando se dissolve no anonimato das massas? Que forma de pensamento emerge quando o cinema ousa filmar a banalidade da existência?
O ciclo “Pensamentos sobre uma Filosofia da Imagem” prossegue com a exibição de “The Crowd” (1928), de King Vidor, uma das obras-primas do cinema mudo americano — e também um dos primeiros filmes de Hollywood a propor uma meditação profundamente existencial, visual e filosófica sobre a vida quotidiana. Muito à frente do seu tempo, é um filme que pensa a condição humana moderna, a alienação urbana e a fragilidade do indivíduo perante a massa.
Após a projeção, propomos uma conversa aberta com o público, sobre temas como imagem e o poder, o ato revolucionário ao romper com o otimismo do “American Dream” e dar centralidade à banalidade quotidiana como tema digno de cinema.
O conceito criativo era simples e radical: filmar o fracasso como tragédia silenciosa, sem moralismo, sem espetacularização, e com uma linguagem visual que fizesse o espectador sentir-se parte da multidão. Vidor pensava o filme como um grito filosófico contra a ilusão da excecionalidade individual.
A história segue John Sims, um jovem de classe média que sonha com sucesso e reconhecimento. Desde pequeno, é ensinado a acreditar que é especial — mas ao crescer, enfrenta a realidade da vida comum: um emprego cinzento num escritório, o casamento com Mary, a perda de um filho, a dificuldade de manter-se emocionalmente e economicamente estável.
Ao longo do filme, John tenta “distinguir-se da multidão” (a “crowd”), mas é constantemente esmagado por ela — não fisicamente, mas simbolicamente, emocionalmente. A cena final deixa isso em aberto: riso e resignação se misturam, sem triunfo.
A multidão anónima é a verdadeira protagonista. O filme mostra como o ideal do “self-made man” é uma miragem para a maioria. John é só mais um número, um rosto indistinto num escritório infinito — um tema que ecoará em Chaplin, Tati, Fellini e até em Roy Andersson.
A mise-en-scène trabalha em contraste: figuras humanas pequenas frente a prédios colossais, interiores opressivos, escadas que não levam a lugar nenhum. A imagem torna-se arquitetura do desamparo.
Vidor rompe com a retórica triunfalista do American Dream. Não há redenção fácil, nem heróis. O fracasso é tratado com compaixão, não com moralismo — uma ética do quotidiano e da banalidade, quase camusiana.
_ENG
Thoughts on a Philosophy of the Image II: "The image as the dissolution of the subject": “THE CROWD”, by King Vidor. [1928 | 1h39’ | US]
With Alexandre Braga
“The Crowd” implodes the myth of individual greatness to force us to ask: what is an image when it dissolves into the anonymity of the masses? What kind of thought emerges when cinema dares to film the banality of existence?
The “Thoughts on a Philosophy of the Image” cycle continues with the screening of The Crowd (1928), by King Vidor, one of the masterpieces of American silent cinema — and also one of the first Hollywood films to offer a deeply existential, visual, and philosophical meditation on everyday life. Far ahead of its time, it is a film that contemplates the modern human condition, urban alienation, and the fragility of the individual in the face of the masses.
After the screening, we propose an open conversation with the audience on topics such as image and power, the revolutionary act of breaking with the optimism of the “American Dream,” and the decision to place everyday banality at the center of cinema as a worthy subject.
The creative concept was simple and radical: to film failure as a silent tragedy, without moralism, without spectacle, and with a visual language that would make the viewer feel part of the crowd. Vidor conceived the film as a philosophical outcry against the illusion of individual exceptionalism.
The story follows John Sims, a young middle-class man who dreams of success and recognition. Since childhood, he has been taught to believe he is special — but as he grows, he confronts the reality of ordinary life: a grey office job, marriage to Mary, the loss of a child, and the constant struggle to remain emotionally and financially stable.
Throughout the film, John tries to “distinguish himself from the crowd,” but he is repeatedly crushed — not physically, but symbolically and emotionally. The final scene leaves this tension unresolved: laughter and resignation blend together, without triumph.
The anonymous crowd is the film’s true protagonist. It shows how the ideal of the “self-made man” is a mirage for most people. John is just another number, an indistinct face in an endless office — a theme that would resonate later in the works of Chaplin, Tati, Fellini, and even Roy Andersson.
The mise-en-scène works through contrast: small human figures set against colossal buildings, oppressive interiors, staircases that lead nowhere. The image becomes an architecture of abandonment.
Vidor breaks with the triumphalist rhetoric of the American Dream. There is no easy redemption, no heroes. Failure is treated with compassion, not with moralism — an ethics of the everyday and the banal, almost Camusian.

Alexandre iniciou seus estudos em música desde a infância, mas escolheu direcionar-se para a comunicação e o cinema ao ingressar na universidade, ainda em sua cidade natal, São Paulo (Brasil). Na época, trabalhou com produção e realização de spots publicitários. Anos depois de lançar seu primeiro curta-metragem de ficção, mudou-se para Lisboa (Portugal), onde fundou a BASE Comunicação Audiovisual, uma agência de comunicação audiovisual, gerindo contas especializadas de diversas marcas e produtos, enquanto com ideias mais artísticas, dedicou-se ao universo do poetry film, da ficção e do drama.
Retomando também suas atividades acadêmicas, e após fazer o mestrado em Desenvolvimento de Projeto Cinematográfico com especialização em Narratologia e Narrativas Cinematográficas concluiu o doutoramento em Ciências da Comunicação também com especialização em Cinema na Universidade Nova de Lisboa e atua hoje como investigador no IFILNOVA - Instituto de Filosofia da NOVA. Atualmente, também é professor de Comunicação Audiovisual em uma renomada escola profissional em Lisboa e é convidado frequentemente para ser consultor de histórias que procuram o seu êxito junto do espectador cinematográfico. Seu mais recente e atual projeto, focado em promover a partilha de narrativas como um meio de autocuidado terapêutico, foi a fundação da PROSA Plataforma Cultural, um espaço aberto à comunidade com atividades que utilizam o poder transformador das artes narrativas e visuais. Lá, com a sua curadoria e com a criação de um extenso grupo de espectadores de cinema, faz-se semanalmente a exibição de ciclos de cinema e filmes, seguidos de debates e análises.
(Filmografia)
"O amor, quando sopra", 6'30'' - 1988
"Mickey", 18’ - 1992
"Buritizal", 39' - 2008
"(Ce n'est pas une) Chanson d'Amour", 09'30'' - 2009
"Fiapo", 5' - 2010
"Um Fiapo de Homem" (Remixes), 3'/7' - 2011
"Devolvendo Isabel", 11’ - 2012
"Meu Pássaro", 15’ - 2017
25 de julho, às 19h30
Mín.: 4 participantes
Máx.: 16 participantes
Horário 3ª Edição:
5€
0€*
*Valores para membros Prosa.
Valores: