Pensamentos sobre uma filosofia da imagem II:

Jovens e Adultos
Com Alexandre Braga

“A imagem em convulsão”: “TERRA EM TRANSE”, de Glauber Rocha.
[1967 | 1h55’ | BR]

‘Terra em Transe’ explode a lógica narrativa para nos forçar a perguntar: o que é uma imagem quando ela entra em convulsão com a própria história? Que forma de pensamento emerge quando o cinema se recusa a ser neutro?

O ciclo “Pensamentos sobre uma Filosofia da Imagem” prossegue com a exibição de Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha — um dos filmes mais radicais e visionários do cinema político moderno. Com uma linguagem poética, barroca e profundamente alegórica, Glauber desfaz a linha entre realidade e delírio, entre a política e o ritual, e força-nos a perguntar: o que é a imagem quando ela já não serve para informar, mas para incendiar? Que pensamento emerge quando o cinema se assume como profecia, como grito e como vertigem?

Após a projeção, propomos uma conversa aberta com o público, sobre temas como imagem e o poder, a imagem como delírio, a imagem entre a fé e o colapso, e o corpo do artista em transe diante da História.

 No fictício continente de Eldorado, o poeta Paulo Martins oscila entre o desejo de mudança social e o fascínio pelo poder, envolvido numa espiral de traições, manipulações e desilusões. Dividido entre dois líderes — o populista Vieira e o conservador Diaz — e entre duas mulheres — a jornalista Sara e a burguesa Sílvia —, Paulo torna-se símbolo de uma geração em luta, mas também de sua impotência trágica. Num país onde a palavra é esvaziada e o gesto se torna febril, ele encarna o transe de um corpo político em combustão.

O corpo, o delírio, a utopia em ruínas.
Com Terra em Transe, Glauber Rocha inventa uma forma cinematográfica que se nega a ser transparente: a montagem é sincopada, o som é excessivo, a câmara é corpo. A imagem torna-se lugar de fratura, onde a paixão e a revolta se misturam ao desencanto e à ruína. Filmado durante a ditadura militar brasileira, o filme recusa tanto o realismo quanto a utopia fácil, preferindo encenar o delírio febril de um intelectual dividido entre a arte e a acção. A imagem de Paulo, ensanguentado, gritando versos num teatro vazio, ecoa como metáfora do artista diante de um mundo que já não escuta — mas onde ainda é preciso gritar.

_ENG

Thoughts on a Philosophy of the Image II: “The image in convulsion”: “TERRA EM TRANSE”, de Glauber Rocha. [1967 | 1h55’ | BR]
With Alexandre Braga

‘Entranced Earth’ shatters narrative logic, compelling us to ask: what is an image when it convulses with history itself? What form of thought arises when cinema refuses neutrality?

The “Thoughts on a Philosophy of the Image” cycle continues with a screening of Entranced Earth (Terra em Transe, 1967), by Glauber Rocha — one of the most radical and visionary films of modern political cinema. With a poetic, baroque, and deeply allegorical language, Glauber dissolves the line between reality and delirium, between politics and ritual, and forces us to ask: what is an image when it no longer informs, but sets fire? What kind of thought emerges when cinema takes on the role of prophecy, of outcry, of vertigo?

Following the screening, we propose an open conversation with the audience, to explore themes such as image and power, image as delirium, image between faith and collapse, and the artist’s body in trance before History.

In the fictional continent of Eldorado, the poet Paulo Martins oscillates between a desire for social change and a fascination with power, caught in a spiral of betrayals, manipulation, and disillusionment. Torn between two leaders — the populist Vieira and the conservative Diaz — and between two women — the journalist Sara and the bourgeois Sílvia — Paulo becomes both a symbol of a generation in struggle and of its tragic impotence. In a country where words are hollow and gestures feverish, he embodies the trance of a political body in combustion.

The body, delirium, and utopia in ruins
With Entranced Earth, Glauber Rocha invents a cinematic form that refuses to be transparent: the editing is syncopated, the sound is excessive, the camera is a body. The image becomes a site of rupture, where passion and revolt mix with disenchantment and ruin. Filmed during Brazil’s military dictatorship, the film rejects both realism and easy utopia, choosing instead to stage the feverish delirium of an intellectual torn between art and action. The image of Paulo, bloodied, shouting verses in an empty theatre, echoes as a metaphor of the artist in a world that no longer listens — but where shouting is still necessary.

Alexandre iniciou seus estudos em música desde a infância, mas escolheu direcionar-se para a comunicação e o cinema ao ingressar na universidade, ainda em sua cidade natal, São Paulo (Brasil). Na época, trabalhou com produção e realização de spots publicitários. Anos depois de lançar seu primeiro curta-metragem de ficção, mudou-se para Lisboa (Portugal), onde fundou a BASE Comunicação Audiovisual, uma agência de comunicação audiovisual, gerindo contas especializadas de diversas marcas e produtos, enquanto com ideias mais artísticas, dedicou-se ao universo do poetry film, da ficção e do drama.

Retomando também suas atividades acadêmicas, e após fazer o mestrado em Desenvolvimento de Projeto Cinematográfico com especialização em Narratologia e Narrativas Cinematográficas concluiu o doutoramento em Ciências da Comunicação também com especialização em Cinema na Universidade Nova de Lisboa e atua hoje como investigador no IFILNOVA - Instituto de Filosofia da NOVA. Atualmente, também é professor de Comunicação Audiovisual em uma renomada escola profissional em Lisboa e é convidado frequentemente para ser consultor de histórias que procuram o seu êxito junto do espectador cinematográfico. Seu mais recente e atual projeto, focado em promover a partilha de narrativas como um meio de autocuidado terapêutico, foi a fundação da PROSA Plataforma Cultural, um espaço aberto à comunidade com atividades que utilizam o poder transformador das artes narrativas e visuais. Lá, com a sua curadoria e com a criação de um extenso grupo de espectadores de cinema, faz-se semanalmente a exibição de ciclos de cinema e filmes, seguidos de debates e análises.

(Filmografia)

"O amor, quando sopra", 6'30'' - 1988
"Mickey", 18’  - 1992
"Buritizal", 39' - 2008
"(Ce n'est pas une) Chanson d'Amour", 09'30'' - 2009
"Fiapo", 5' - 2010
"Um Fiapo de Homem" (Remixes), 3'/7' - 2011
"Devolvendo Isabel", 11’ - 2012
"Meu Pássaro", 15’ - 2017

27 de junho, às 17h00

Mín.: 4 participantes
Máx.: 16 participantes

Horário 1ª Edição:

5€
0€*

*Valores para membros Prosa.

Valores: