Cinema PROSA
Ciclo
TERRA NOVA
NEWFOUNDLAND Cinema Screenings
Conta-nos a história que a conquista e a chegada a novas terras tem sido um momento de fascínio e de violência, de descoberta e de domínio. "AGUIRRE" (1972) de Werner Herzog e "THE NEW WORLD" (2005) de Terrence Malick exploram, de formas distintas mas complementares, esta tensão entre o impulso de conquista e a inevitável transformação que advém do encontro com o desconhecido. Ambos os filmes desenham paisagens vastas e exuberantes que não são apenas cenário, mas sim forças vivas que testam, moldam e desintegram aqueles que nelas ousam entrar.
Aguirre lidera uma expedição espanhola em busca da mítica cidade de ouro, mas o que começa como uma missão de exploração rapidamente se torna um pesadelo febril de ambição desmedida. Já em "THE NEW WORLD", o confronto entre os colonizadores ingleses e os povos nativos da Virgínia revela dinâmicas que oscilam entre a coexistência e o conflito, numa dança delicada entre o deslumbramento e a imposição de uma nova ordem. Em ambos os casos, a chegada não é apenas física, mas espiritual: quem se aproxima de uma nova terra deve questionar a forma como se coloca perante o que encontra. Há um respeito pelo equilíbrio existente ou apenas um desejo cego de moldá-lo à própria imagem? O encontro com o outro é inevitável. Mas o que acontece a seguir? Em "AGUIRRE", a relação com aqueles que já habitam a terra reduz-se à subjugação, ao desprezo e à violência. No filme de Malick, há um jogo mais subtil, onde a aproximação e a desconfiança se cruzam, deixando em aberto a possibilidade de um entendimento mútuo. A pergunta permanece: será possível uma relação frutuosa entre os que chegam e os que já lá estavam, ou a história está condenada a repetir o mesmo ciclo de invasão e destruição?
Nenhum dos agentes envolvidos nestas histórias permanece inalterado. Aguirre, movido pela ambição, afunda-se na sua própria loucura, arrastando consigo os que o seguem. Os ingleses que desembarcam na América enfrentam uma lenta metamorfose, quer na forma como veem aquele território, quer na forma como ele os transforma. Para quem chega, a terra nunca é apenas um espaço a ser conquistado — é também um espelho da sua própria condição humana, revelando tanto a grandeza como as fraquezas de cada um. Se no século XVI os conquistadores avançavam guiados pela promessa de riqueza e glória, os impulsos expansionistas de hoje não são assim tão diferentes. As lideranças mundiais que justificam ataques e invasões em nome do progresso ou da soberania nacional não estão tão distantes da mentalidade de Aguirre. A lógica do domínio continua a alimentar-se da mesma febre, ainda que agora se expresse através de outras bandeiras e pretextos. O cinema de Herzog e de Malick coloca-nos, assim, perante um espelho desconfortável: o que aprendemos realmente com a história?
A questão da soberania emerge com peso em ambos os filmes. Quem tem direito sobre a terra? Aquele que nela sempre viveu ou aquele que a reclama através da força? O cinema, aqui, não oferece respostas simples, mas propõe um olhar atento às contradições do poder, do direito e da pertença. "O Novo Mundo" sugere uma visão quase poética da terra como um espaço de comunhão possível, enquanto "Aguirre" desmonta brutalmente a ilusão da posse.
O que estas narrativas nos mostram, no fundo, é que a conquista é sempre uma ilusão efémera. Os líderes e exploradores podem acreditar que dominam a natureza e os povos que nela habitam, mas o verdadeiro poder pertence ao tempo, às águas que correm e às florestas que crescem indiferentes aos delírios humanos. Se algo persiste, é a terra — e a memória das feridas deixadas por aqueles que nela desembarcaram sem compreender que nunca a poderiam possuir por completo.
Neste ciclo, os espectadores são convidados a embarcar nestas viagens cinematográficas que, embora separadas por séculos e estilos distintos, dialogam entre si sobre os mesmos dilemas essenciais. Entre a febre de conquista e a fragilidade humana, entre o choque das civilizações e a transformação inevitável, Herzog e Malick propõem não apenas histórias do passado, mas também perguntas urgentes sobre o presente.
(Curadoria de Alexandre Braga)
“AGUIRRE” 1972 | M/16 | 1h35’ [DE] (Aguirre, der Zorn Gottes - DE | Aguirre: the Wrath of God - ENG)
De Werner Herzog
Sexta Dia 28/03 às 19h30
No século XVI, o implacável e insano Don Lope de Aguirre lidera uma expedição espanhola em busca de El Dorado.
In the 16th century, the ruthless and insane Don Lope de Aguirre leads a Spanish expedition in search of El Dorado.
“THE NEW WORLD” 2005 | M/12 | 2h15’ [US/UK] (O Novo Mundo - PT)
De Terrence Malick
Sábado Dia 29/03 às 19h30
The story of the English exploration of Virginia, and of the changing world and loves of Pocahontas.
A história da exploração inglesa na Virgínia e das transformações no mundo e nos amores de Pocahontas.
Todos os filmes do Cinema PROSA serão exibidos em pixel iluminado (ecrã QLED 65’’) em sala condicionada ao máximo de 24 espectadores.
Preçário
Membros: Entrada livre.
Não-membros: 3€
Trailers aqui: