Na última década, muitos termos surgiram para caracterizar o que parecia ser a revelação de um novo subgénero – um “novo” terror que misturasse a estética formal do cinema de autor, com a construção de uma experiência afetiva do medo e do ‘suspense’. Associados a filmes de baixo orçamento, produzidos por produtoras independentes norte-americanas como A24 ou Blumhouse, termos como Post Horror ou Elevated Horror tornaram-se comuns junto da crítica e do público, e surgiram para classificar uma “fuga” a um cinema de terror clássico, que se terá tornado repetitivo, aborrecido, rotineiro e formulaico ao longo dos anos. Aclamados pela critica por supostamente transcender o status quo do género de terror, os filmes associados a estes termos também conquistaram o público mais generalista e mais distante do terror, parecendo relegar para segundo plano e desvalorizar todo o outro terror dito mais comercial, com o objetivo de “fugir” ao género e torná-lo mais prestigiante.
No seguimento do último ciclo de cinema SLOW HORROR exibido em outubro do ano passado na PROSA e do seu êxito junto de um público que nutria uma expectativa diferente dos filmes clássicos de terror, destacamos novamente o Slow Horror como o termo que achamos fazer mais sentido para caracterizar esta nova tendência do género, este lado mais autoral, diferenciado ou experimental do terror. Aqui há uma tensão acumulada, um terror constante, um sentimento geral de algo está mal, e o foco é o de criar uma sensação de desconforto, pavor e ansiedade, privilegiando os aspetos visuais e auditivos do filme. Os filmes do Slow Horror utilizam muito o espaço como fonte do terror, a exploração da lentidão, os planos estáticos ou de pouco movimento, planos longos que ajudam a contemplação e introspeção.
Salientamos esta “lentidão” do terror porque, além de aumentar a tensão e apreensão, funciona também como uma reação contra a velocidade crescente do século XXI, uma resistência a um cinema de “aceleração”, de uma montagem cinematográfica e movimentos de câmara cada vez mais rápidos e caóticos do cinema de Hollywood pós-anos 1990, relegando para segundo plano os jump-scares, o sangue e o gore. São filmes que inovaram com as suas narrativas flutuantes, circulares e abertas, personagens ambíguas e psicologicamente complexas, e várias formas de manipulação espacial e temporal. Abordam temáticas como o luto ou a perda, o racismo, o coming-of-age, as relações matrimoniais ou familiares, a maternidade, a depressão, o comentário social, o isolamento, a solidão, as ansiedades sociais, entre outras. Esta estética lenta no Slow Horror eleva estes medos e apreensões que os filmes de terror mais convencionais optam por relegar para segundo plano ou ignorar.
Os dois filmes deste ciclo: Donnie Darko (Richard Kelly, 2001) e It Follows (David Robert Mitchell, 2014) apresentam características e abordam temáticas que os associam ao Slow Horror. No primeiro presenciamos um pesadelo acordado, um terror constante que não sabemos quando, ou se, terminará. O filme de Kelly explora esta lentidão do terror ao acompanharmos um adolescente perturbado, algo esquizofrénico e depressivo, experienciando uma sensação de isolamento, enquanto vai tendo encontros com um homem sinistro que o informa que o mundo estará prestes a acabar. Já o segundo é também uma obra recheada longas sequências de paranoia e inquietação, onde os “vilões” caminham lentamente em direção à câmara, gerando pavor, apreensão e claustrofobia. Podendo ser visto como uma parábola à abstinência sexual ou uma metáfora para a SIDA, aqui temos alusão aos medos da adolescência, os receios da idade adulta e o confronto com a própria mortalidade.
Fábio Sequeira
Curador do ciclo.
”DONNIE DARKO” 2001 | 1h53’ | M/16
De Richard Kelly
Sexta Dia 23/06 às 19h30
Depois de escapar por pouco de um acidente bizarro, um adolescente problemático é atormentado por visões de um homem em uma grande fantasia de coelho que o manipula para cometer uma série de crimes.
”IT FOLLOWS” 2014 | 1h40’ | M/14 (Vai Seguir-te - PT)
De David Robert Mitchell
Sábado Dia 24/06 às 19h30
Uma jovem é seguida por uma força sobrenatural desconhecida após um encontro sexual.
Todos os filmes do Cinema PROSA serão exibidos em pixel iluminado (ecrã QLED 65’’) em sala condicionada ao máximo de 24 espectadores.
Preçário
Membros: Entrada livre.
Não-membros: 3€
Trailers aqui: