Poucos artistas da música contemporânea alcançaram a amplitude criativa, ética e humanista de Peter Gabriel. Desde os primeiros anos nos Genesis — em que reinventou a performance rock com teatralidade, imaginação e profundidade mitopoética — até à sua extraordinária carreira a solo, Gabriel tornou-se uma voz singular na cultura global. A sua música, marcada por uma fusão visionária de rock, electrónica, texturas orquestrais e sonoridades do mundo, abriu caminhos estéticos e tecnológicos que influenciaram gerações.

Mas Gabriel é muito mais do que um músico inovador: é uma antena sensível aos problemas do seu tempo. Ao longo de décadas, colocou a arte ao serviço da justiça social, dos direitos humanos e do combate à xenofobia. Fundador da WOMAD, defensor incansável da diversidade cultural, aliado da Amnesty International e impulsionador de plataformas de denúncia — como a Witness, dedicada ao uso do vídeo para proteger os direitos das comunidades vulneráveis — Gabriel transformou a visibilidade artística em responsabilidade ética.

A sua obra é atravessada por um impulso profundamente humanista e ecológico, atento às desigualdades, às violências do mundo e à necessidade de empatia entre povos, culturas e espécies. Apresentamos aqui o seu trabalho em quatro fases: seja no início da experiência com os Genesis, em GENESIS Live Shepperton (1973), seja na banda sonora espiritual de The Last Temptation of Christ (1988), de Martin Scorsese, nas explosivas performances de Secret World Live (1994), ou na reinvenção íntima e orquestral com a New Blood Orchestra em Peter Gabriel NEW BLOOD Live in London (2011), Peter Gabriel continua a lembrar-nos que a arte pode ser espaço de encontro, de cura e de futuro.

Este ciclo celebra não apenas um músico, mas um criador íntegro, que faz da música uma forma de pensamento, de cuidado e de resistência.

(Curadoria de Alexandre Braga)


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Few artists in contemporary music have achieved the creative, ethical, and humanistic breadth of Peter Gabriel. From his early years with Genesis — where he reinvented rock performance through theatricality, imagination, and a deeply mythopoetic sensibility — to his extraordinary solo career, Gabriel has become a singular voice in global culture. His music, shaped by a visionary fusion of rock, electronics, orchestral textures, and world sonorities, opened aesthetic and technological paths that influenced generations.

But Gabriel is far more than an innovative musician: he is a sensitive antenna tuned to the problems of his time. For decades, he has placed art at the service of social justice, human rights, and the fight against xenophobia. Founder of WOMAD, tireless defender of cultural diversity, long-standing ally of Amnesty International, and driving force behind activist platforms such as Witness — dedicated to using video to protect vulnerable communities — Gabriel transformed artistic visibility into ethical responsibility.

His work is crossed by a profoundly humanistic and ecological impulse, attentive to inequality, global violence, and the urgent need for empathy across peoples, cultures, and species. Here we present his work in four phases: from his early explorations with Genesis in GENESIS Live Shepperton (1973), to the spiritual landscape of Scorsese’s The Last Temptation of Christ (1988), to the explosive energy of Secret World Live (1994), and the intimate orchestral reinvention with the New Blood Orchestra in Peter Gabriel: NEW BLOOD Live in London (2011). Throughout these decades, Peter Gabriel reminds us that art can be a space of encounter, healing, and future-making.

This cycle celebrates not only a musician, but an integral creator — someone who turns music into a form of thought, care, and resistance.

(Curatorship by Alexandre Braga)