Os melodramas dos anos 1950 dirigidos pelo cineasta alemão Douglas Sirk (como Magnificent Obsession, Imitation of Life, Written on the Wind e All That Heaven Allows) nem sempre foram levados a sério pela crítica na época de seu lançamento, sendo frequentemente descartados como “filmes sentimentais de mulheres”. Nas décadas seguintes, os filmes de Sirk foram reavaliados por críticos e cinéfilos, e hoje são amplamente reconhecidos como obras-primas influentes.

Para o nosso ciclo O Preço da Felicidade, escolhi dois filmes inspirados na filmografia de Sirk: Ali: Fear Eats the Soul (1974), de Rainer Werner Fassbinder, e Far from Heaven (2002), de Todd Haynes. Fassbinder utiliza sua irreverência e “crueldade poética” para atualizar All That Heaven Allows (1955). Ali acompanha Emmi (Brigitte Mira), uma viúva solitária que se apaixona por um trabalhador marroquino muito mais jovem (El Hedi ben Salem). O sentimento é recíproco, mas seus amigos, vizinhos e parentes não veem o relacionamento com bons olhos.

Far from Heaven, realizado cinco décadas após os filmes de Sirk, é uma homenagem mais explícita, na qual Todd Haynes constrói todo o filme como um mundo exagerado e colorido feito de aparências. Assim como Ali, também aborda tensões raciais, mas apresenta uma trama central sobre homossexualidade reprimida — um tema que ainda era tabu e não podia ser explorado plenamente nos filmes de Sirk. Julianne Moore está magnífica, assim como o resto do elenco: Dennis Haysbert, Dennis Quaid, Patricia Clarkson e Viola Davis.

A felicidade é real — e vale a pena — quando não é aprovada por aqueles que nos cercam? Fassbinder e Haynes (e Sirk, antes deles) nos mostram que a felicidade sempre vem a um preço alto. E, assim como na vida real, esses personagens nem sempre conseguem fazer a escolha certa. Nós os amamos mesmo assim.

(Curadoria de Aluísio Leite)


_ENG

The 1950s melodramas directed by German filmmaker Douglas Sirk (such as Magnificent Obsession, Imitation of Life, Written on the Wind and All That Heaven Allows) weren't always taken seriously by critics at the time of their release; being often dismissed as "sentimental women's pictures." In the subsequent decades, Sirk's films were reassessed by critics and film lovers alike, and today are highly regarded as influential masterpieces.

For our cycle The Price of Happiness, I chose two films that were inspired by Sirk's filmography: Rainer Werner Fassbinder's ALI: FEAR EATS THE SOUL (1974), and Todd Haynes' FAR FROM HEAVEN (2002). Fassbinder uses his irreverence and "poetic cruelty" for an update of Sirk's All That Heaven Allows (1955). ALI follows Emmi (Brigitte Mira), a lonely widow who falls for a much younger Moroccan worker (El Hedi ben Salem). The feeling is mutual, but their friends, neighbors and relatives aren't keen on the relationship.

FAR FROM HEAVEN, which was made five decades after Sirk's films, is a more explicit homage in which Todd Haynes crafts the whole film as a heightened and colorful world made of appearances. Like Ali, it also deals with racial tensions, but also features a central storyline about repressed homosexuality; a theme that was still taboo and couldn't be fully exploited in Sirk's films. Julianne Moore is magnificent, and so are the supporting players: Dennis Haysbert, Dennis Quaid, Patricia Clarkson and Viola Davis.

Is happiness real - and worth it - when it's not approved by those around us? Fassbinder and Haynes (and Sirk, before them) show us that happiness always comes at a high price. And just like real life, these characters don't always get to make the right choice. We love them all the same.

(Curatorship by Aluísio Leite)