A morte é o fim inevitável e o desejo é o que move a nossa própria existência. Neste ciclo, começaremos com dois filmes que representam a morte e o desejo como temas interligados.

Começaremos com O SABOR DA CEREJA (1997), de Abbas Kiarostami, o primeiro filme iraniano a ganhar a Palma de Ouro em Cannes (ex aequo com A Enguia, de Shohei Imamura). Uma meditação poética – e devastadora – sobre a vida, a mortalidade e o peso da escolha individual, o filme acompanha um homem de meia-idade (Homayoun Ershadi) enquanto ele dirige pelos arredores de Teerã, em busca de alguém disposto a enterrá-lo após cometer suicídio. O filme aborda dois temas tabu no Islã: o suicídio (mencionado explicitamente) e a homossexualidade (que é apenas implícita e aberta à interpretação).

O segundo filme, a obra-prima de Claire Denis, BEAU TRAVAIL (1999), é, ao primeiro olhar, muito diferente do filme de Kiarostami. Sensual e colorido (com belas imagens de Agnès Godard), é um “mood piece” sobre um sargento da Legião Estrangeira Francesa (Denis Lavant) que mergulha em uma loucura silenciosa devido à sua obsessão por um recruta mais jovem e muito bonito (Grégoire Colin). Desejos reprimidos (e homossexualidade) são sugeridos aqui de forma mais explícita do que no filme de Kiarostami. Em suas inesquecíveis cenas finais, ambos os filmes dançam igualmente com as possibilidades da arte, da vida e da escolha individual; quando e como acabar com nosso próprio desespero. E, como toda grande arte, nenhum dos filmes nos fornece todas as respostas; eles inspiram as mais variadas interpretações. São dois dos filmes mais belos da década de 1990 e estão prontos para serem (re)descobertos.

(Curadoria de Aluísio Leite)


_ENG

Death is the inevitable end and desire is what moves our very own existence. For this cycle, we’ll start with two films that represent death and desire as major, intertwining themes.

We shall start with Abbas Kiarostami’s TASTE OF CHERRY (1997), the first Iranian film to win the Palme d’Or at Cannes (ex aequo with Shohei Imamura’s The Eel), A poetic - and devastating - meditation on life, mortality and the weight of individual choice, the film follows a middle-aged man (Homayoun Ershadi) as he drives around the outskirts of Tehran, looking for someone willing to bury him after he commits suicide. The film deals with two things that are taboo under Islam: suicide (mentioned explicitly) and homosexuality (which is only implied and open to interpretation).

The second film, Claire Denis’ masterpiece BEAU TRAVAIL (1999), is, on the surface, very different from Kiarostami’s film. Sensual and colorful (with beautiful cinematography by Agnès Godard), it’s a mood piece about a French Foreign Legion sergeant (Denis Lavant) as he descends into quiet madness over his obsession with a strikingly handsome younger recruit (Grégoire Colin). Repressed desires (and homosexuality) are suggested here in a more explicit fashion than in Kiarostami’s film. In their stunning and unique codas, both films equally dance with the possibilities of art, life and individual choice; when and how to end our own despair. And like all great art, neither film feeds you all the answers; they inspire the most varied interpretations. They’re two of the most beautiful films of the 1990’s, and are ripe for (re)discovery.

(Curatorship by Aluísio Leite)