Ciclos de Cinema
SET_DEZ 2024

Caros Cinéfilos,

Desde a exibição daqueles três filmes do Hal Hartley em julho de 2022 até hoje, já muita coisa aconteceu aqui: cada lágrima, cada sorriso, cada reação, compreensão ou reflexão geradas pelo filme que acabámos de mostrar, mostra-nos a importância da nossa presença como promotores deste pequeno ritual transformador a cada sessão. Isto tudo feito para vocês: cinéfilos que nos acompanham, sejam membros PROSA, membros CURIOUS MONKEY FILM CLUB ou pessoas que amam perdidamente o cinema e que chegam até a nossa humilde e ‘mini’ sala de cinema: um híbrido entre a mítica sala de cinema e a nossa ‘cozy’ sala de estar lá de casa.
Mas qualquer lugar que cumpra esta intenção se transforma numa catedral. Citando Morin: “Quando os poderes da luz, das sombras e do nosso duplo se fundem numa tela branca, numa sala obscurecida, para aquele espectador afundado em seu alvéolo, em sua mônada fechada para tudo, menos para a tela, envolvido na dupla placenta, a de uma comunidade anônima e a da escuridão. Quando os canais da ação são fechados, abre,-se as eclusas do mito, do sonho e da magia.” (EDGAR MORIN, O Cinema e o Homem Imaginário; 1970: Pg.122)

Esta ‘cinematerapia’ mostra-nos, sessão a sessão, aquilo que já suspeitávamos: que as artes narrativas são transformadoras. Fazem-nos mudar o foco, mudar de lado, acabar com os lados… ser uno. É uma arte que aperfeiçoa a nossa visão sobre a condição humana, seja através deste cerimonial que nos faz mudar de estatuto emocional, espiritual; seja através do ‘espelho colossal’ em que este ecrã se transforma, e que nos olhamos, atentos, nas análises narratológicas das pós-conversas.
Porque estas histórias e a nossa história individual são ecos das histórias arquetipais, contadas e recontadas desde o dia zero da humanidade.”

Por isso, temos mais uma temporada pela frente: cinema acutilante, emocionante, refrescante ou aterrador. Mas cinema que nos faz olhar no espelho. Porque é fundamental nestes dias de vórtex comunicacional efêmero.
Continuem connosco, olhando para esta verdade.

Alexandre Braga