Ideias sobre um subgênero no cinema: SLOW HORROR
Surgindo no final dos 90s, o Slow Horror resulta numa mistura de uma estética formal do cinema de autor, com a construção da experiência afetiva do terror, Muitas vezes designado também por Slow Terror, Post-Horror, Smart Horror ou Elevated Horror, é um subgénero que surgiu como resposta a um cinema clássico, a um terror clássico, que se terá tornado repetitivo, aborrecido, rotineiro e formulaico ao longo dos anos. Partilhando uma lentidão que abre espaço para sequências digressivas, o Slow Horror vai buscar uma estética, uma técnica e uma narrativa, ausentes do terror mainstream, como os tais planos sequência bastante longos, o foco em fragmentos de ações do quotidiano aparentemente mundanos, e trechos de aparente imobilidade narrativa. Este é um subgénero que leva muitos autores do género a arriscar em termos de estrutura e narrativa, a se recusarem a mostrar o que é esperado, de forma a não perder o público do género, a não perder a sua atenção, a não levar ao seu aborrecimento ou desinteresse, ao mesmo tempo que refletem e espelham os medos de uma sociedade contemporânea.
Sabendo à partida que o Slow Horror é universal e que, geograficamente, conseguimos encontrar exemplos em cinematografias um pouco por todo o mundo, na Prosa perguntamos - o que torna um determinado cineasta num autor do Slow Horror? Para responder a esta questão, iremos começar esta ‘viagem’ com um cineasta com uma filmografia claramente identificada com este subgénero (Kiyoshi Kurosawa), outros que revisitam por vezes o género e que se torna curioso perceber qual a relação do Slow Horror com o resto da sua filmografia (Ti West), e se podemos identificar ou considerar o género como presente num cinema onde o terror nunca teve um papel relevante (cinema português e Manoel de Oliveira).
Fábio Sequeira
Nos dias 28, 29 e 30/10 serão apresentados na PROSA os seguintes filmes, sob a curadoria do autor deste texto:
”CURE” 1997 | 1h51’ | M/16 (A Cura - PT)
De Kiyoshi Kurosawa
Sexta Dia 28/10 às 19h30
‘Cure’ é um thriller psicológico onde uma série de assassinatos acontecem e o assassino é sempre alguém diferente e que não se lembra de ter cometido o crime. A Investigar os crimes está um detetive cansado e deprimido que vive atormentado com seus próprios problemas.
Fortemente elogiado pela crítica internacional, este conto psicológico de terror deu a Kiyoshi Kurosawa o reconhecimento internacional e foi considerado o precursor do terror japonês, comumente designado por J-Horror e que inclui filmes como Ringu (1998), Dark Water (2002) ou Ju-On: The Grudge (2002).
”THE HOUSE OF THE DEVIL” 2009 | 1h35’ | M/16 (A Casa do Diabo - PT)
De Ti West
Sábado Dia 29/10 às 19h30
Em The House of the Devil, uma jovem estudante universitária, de maneira a poder pagar a renda da sua nova casa, aceita um emprego como baby-sitter. À medida que a noite avança, cenários horríveis se desenrolam enquanto um eclipse lunar acontece.
Este filme de Ti West (The Innkeepers de 2011, X e Pearl, ambos de 2022l) é uma viagem no tempo de volta ao terror dos anos 70 e 80. Alternando entre o uso do silêncio e uma banda sonora subtil, West utiliza técnicas e movimentos de câmara que podemos chamar de old school, filma em 16mm, capturando a sensação e atmosfera dos filmes da época.
”O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA” 2010 | 1h37’ | M/12
De Manoel de Oliveira
Domingo Dia 30/10 às 17h30
Numa noite de chuva, um fotógrafo é chamado, subitamente, para fotografar uma linda mulher que acabara de falecer. No entanto, este fica rapidamente perturbado e transtornado pela imagem da falecida que sorri quando ele a observa através da camara.
O Estranho Caso de Angélica torna-se um filme difícil de classificar pois não atende a convenções. No entanto, não podemos deixar de identificar a fantasmagoria e o fantástico nesta penúltima longa-metragem de Manoel de Oliveira que, apesar de já centenário, não deixa de mostrar uma jovialidade artística, a experimentar géneros, e a continuar a homenagear o Cinema.