O Silêncio, segundo Christina Kubisch

Como inscrever o silêncio num mundo de sons, sem somente e simplesmente nos privar da captação natural e espontânea do som? Como tornar o silêncio, uma linguagem universal?

SILENCE PROJECT, 2011 foca-se numa linha de investigação e prática artística de Kubisch que aborda questionamentos materiais, conceptuais e culturais do silêncio. Tendo como base uma coleção de gravações das palavras que significam “silêncio” em cerca de setenta línguas, o projeto desdobra-se em dois trabalhos: um que parte das imagens de sonogramas destas palavras (Analyzing Silence [Analizando o Silêncio], 2011 – em curso), e outro (Silent Exercises [Exercícios Silenciosos], 2011 - ) inclui uma projeção vídeo silenciosa onde se fundem essas imagens e uma instalação sonora assente na espacialização de uma composição das gravações das palavras, que se irá impor ao silêncio na torre da Capela da Casa de Serralves.

“A palavra é apresentada sem som, fiel ao seu significado e transformada num padrão visual”, aqui projetado na estrutura arquitetónica da capela da Casa de Serralves que, apesar de dessacralizada, não deixa de transpirar a sua conceção e os seus usos passados enquanto lugar onde o silêncio e as vozes interiores assumiam um estatuto de elevada importância.


Se tínhamos aprendido com John Cage a impossibilidade de ouvir o silêncio, Kubisch oferece-nos a possibilidade de visualizarmos uma substanciação imagética da sua conceptualização abstrata.


Num espaço separado, é apresentada a componente sonora de SILENT EXERCISES, assente na espacialização de uma composição das palavras gravadas, impondo-se esta ao silêncio na torre da Capela da Casa de Serralves. As vocalizações das palavras são “dispostas em camadas, padrões rítmicos, às vezes como um solo, como um caos de vozes ou como uma espécie de mistura discreta de línguas desconhecidas”. Ao contrário do que acontecia na Torre de Babel, esta mistura de línguas não serve a confusão e a falta de entendimento mas antes as possibilidades musicais desta congregação de “silêncios” e das suas ressonâncias na arquitetura e materiais da torre.

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