
Conversas com Cinema© apresenta:
Ciclo Luzes na Caverna IV:
”A imagem como espaço de metamorfose identitária.”:
“ZELIG” 1983 | 1h19’ [US]
de Woody Allen
Jovens e Adultos
Com Alexandre Braga
”A imagem como espaço de metamorfose identitária.”: “ZELIG” 1983 | 1h19’ [US] de Woody Allen
“Zelig” interroga a própria ontologia da imagem: se esta é sempre construção, como pensar a sua verdade quando o rosto se transforma em puro simulacro ? Que forma de pensamento emerge quando o cinema ousa filmar a metamorfose como condição da existência?
O ciclo “LUZES NA CAVERNA”, outrora “Pensamentos sobre uma Filosofia da Imagem”, prossegue com a exibição de ZELIG (1983), de Woody Allen, uma das experiências mais singulares do cinema contemporâneo — um falso documentário que funde humor, crítica cultural e reflexão filosófica. Ao encenar a história de um “homem-camaleão” que se transforma em espelho de todos os que o rodeiam, o filme propõe uma meditação incisiva sobre a instabilidade da identidade e o papel da imagem como construção social e política, em tempos de pós-verdade e imagens geradas por inteligência artificial (I.A.)
Após a projeção, propomos uma conversa aberta com o público, sobre temas como metamorfose identitária, a imagem como simulacro, e a forma como o cinema questiona a autenticidade num mundo saturado de máscaras e representações.
O conceito criativo de Zelig é igualmente radical: filmar a metamorfose como comédia silenciosa e filosófica, num falso documentário que mistura imagens de arquivo e encenação. Woody Allen pensou o filme como um ensaio sobre a imagem e a identidade — uma sátira às ilusões de autenticidade num mundo mediado pelo olhar social.
A história segue Leonard Zelig, um homem anónimo que possui a estranha capacidade de se transformar fisicamente em qualquer pessoa que o rodeie. Desejando apenas ser aceite, Zelig dissolve-se no outro: torna-se irlandês entre irlandeses, negro entre negros, psiquiatra entre médicos. A sua identidade é puro reflexo, camuflagem e contágio. O riso, aqui, não é apenas cómico: é inquietante.
A imagem torna-se laboratório da metamorfose. Arquivos manipulados, discursos políticos, fotografias históricas e depoimentos fictícios compõem uma mise-en-scène que imita o real para o questionar. A própria forma fílmica é camaleónica: simula ser documento, mas é ficção, apontando para a fragilidade da memória e da verdade visual.
Allen rompe com a retórica da identidade fixa e do sujeito estável. O herói de Zelig não triunfa nem fracassa — simplesmente desaparece no espelho dos outros. Trata-se de uma parábola filosófica sobre a imagem como simulacro e sobre a identidade como performance coletiva. Um tema que ecoa tanto em Kafka como em Foucault, em Pirandello como em Deleuze: quem somos nós, quando somos sempre também o outro?
_ENG
Lights in the Cave IV Cinema Screenings: “The image as a space of identity metamorphosis.”:
ZELIG (1983 | 1h19’ | US) by Woody Allen.
With Alexandre Braga
“ZELIG” interrogates the very ontology of the image: if it is always a construction, how can we think of its truth when the face turns into pure simulacrum? What kind of thought emerges when cinema dares to film metamorphosis as a condition of existence?
The “LIGHTS IN THE CAVE” Cinema Screenings, formerly “Thoughts on a Philosophy of the Image”, continues with the screening of ZELIG (1983), by Woody Allen — one of the most singular experiences of contemporary cinema, a mockumentary that blends humor, cultural critique, and philosophical reflection. By staging the story of a “human chameleon” who becomes a mirror of all those around him, the film offers an incisive meditation on the instability of identity and on the role of the image as a social and political construction, in times of post-truth and AI-generated images.
After the screening, we invite the audience to an open conversation on themes such as identity metamorphosis, the image as simulacrum, and the ways in which cinema questions authenticity in a world saturated with masks and representations.
The creative concept of Zelig is equally radical: to film metamorphosis as a silent, philosophical comedy, in the form of a mock documentary that fuses archival footage and staged scenes. Woody Allen conceived the film as an essay on image and identity — a satire on the illusions of authenticity in a world mediated by the social gaze.
The story follows Leonard Zelig, an anonymous man with the uncanny ability to physically transform into anyone around him. Longing only to be accepted, Zelig dissolves into the other: he becomes Irish among the Irish, Black among the Black, a psychiatrist among doctors. His identity is pure reflection, camouflage, contagion. Laughter here is not merely comic — it is unsettling.
The image itself becomes a laboratory of metamorphosis. Manipulated archives, political speeches, historical photographs, and fictional testimonies compose a mise-en-scène that imitates reality in order to question it. The film form is chameleonic: it simulates being a document, but is fiction, pointing to the fragility of memory and the visual truth.
Allen breaks with the rhetoric of fixed identity and stable subjectivity. The hero of Zelig neither triumphs nor fails — he simply disappears in the mirror of others. It is a philosophical parable on the image as simulacrum and identity as collective performance. A theme that resonates with Kafka as much as with Foucault, with Pirandello as with Deleuze: who are we, when we are always also the other?

Alexandre iniciou seus estudos em música desde a infância, mas escolheu direcionar-se para a comunicação e o cinema ao ingressar na universidade, ainda em sua cidade natal, São Paulo (Brasil). Na época, trabalhou com produção e realização de spots publicitários. Anos depois de lançar seu primeiro curta-metragem de ficção, mudou-se para Lisboa (Portugal), onde fundou a BASE Comunicação Audiovisual, uma agência de comunicação audiovisual, gerindo contas especializadas de diversas marcas e produtos, enquanto com ideias mais artísticas, dedicou-se ao universo do poetry film, da ficção e do drama.
Retomando também suas atividades acadêmicas, e após fazer o mestrado em Desenvolvimento de Projeto Cinematográfico com especialização em Narratologia e Narrativas Cinematográficas concluiu o doutoramento em Ciências da Comunicação também com especialização em Cinema na Universidade Nova de Lisboa e atua hoje como investigador no IFILNOVA - Instituto de Filosofia da NOVA. Atualmente, também é professor de Comunicação Audiovisual em uma renomada escola profissional em Lisboa e é convidado frequentemente para ser consultor de histórias que procuram o seu êxito junto do espectador cinematográfico. Seu mais recente e atual projeto, focado em promover a partilha de narrativas como um meio de autocuidado terapêutico, foi a fundação da PROSA Plataforma Cultural, um espaço aberto à comunidade com atividades que utilizam o poder transformador das artes narrativas e visuais. Lá, com a sua curadoria e com a criação de um extenso grupo de espectadores de cinema, faz-se semanalmente a exibição de ciclos de cinema e filmes, seguidos de debates e análises.
(Filmografia)
"O amor, quando sopra", 6'30'' - 1988
"Mickey", 18’ - 1992
"Buritizal", 39' - 2008
"(Ce n'est pas une) Chanson d'Amour", 09'30'' - 2009
"Fiapo", 5' - 2010
"Um Fiapo de Homem" (Remixes), 3'/7' - 2011
"Devolvendo Isabel", 11’ - 2012
"Meu Pássaro", 15’ - 2017
26 de setembro, às 19h30
Mín.: 4 participantes
Máx.: 16 participantes
Horário IV Edição:
5€
0€*
*Valores para membros Prosa.
Valores: