
Conversas com Cinema© apresenta:
Ciclo Luzes na Caverna V:
”A imagem como ritual da memória.”:
“SAYAT NOVA” 1969 | M/12 | 1h19’ [URSS]
De Sergei Parajanov
Jovens e Adultos
Com Alexandre Braga
”A imagem como ritual da memória.”:
“SAYAT NOVA” (“THE COLOR OF POMEGRANATES” | “A COR DA ROMÔ)
1969 | M/12 | 1h19’ [URSS]
De Sergei Parajanov
Spoken in Armenian, Azerbaijani, Georgian | Subtitled in English
SAYAT NOVA interroga a própria natureza da memória: se recordar é sempre ritualizar, que verdade habita na imagem quando esta se oferece como ícone e não como documento? Que forma de pensamento emerge quando o cinema ousa filmar a biografia como liturgia e a história como celebração simbólica?
O ciclo “LUZES NA CAVERNA”, outrora “Pensamentos sobre uma Filosofia da Imagem”, prossegue com a exibição de SAYAT NOVA / The Color of Pomegranates / A Cor da Romã (1969), de Sergei Parajanov, uma das obras mais radicais e poéticas da história do cinema. Mais do que narrar a vida do poeta arménio Sayat Nova, o filme reinventa a biografia como um conjunto de quadros vivos, ícones em movimento que celebram a memória coletiva, a tradição religiosa e a imaginação simbólica.
Parajanov constrói cada plano como um rito visual, onde cor, gesto e objeto se tornam signos de uma espiritualidade que transcende o realismo e aproxima o cinema da pintura e da liturgia. A imagem deixa de ser representação e passa a ser oferenda: não conta, mas celebra; não explica, mas invoca.
Após a projeção, propomos uma conversa aberta com o público, sobre temas como a imagem enquanto ritual da memória, o diálogo entre cinema e iconografia religiosa, e a forma como Parajanov transforma a biografia numa experiência mítica e intemporal.
O conceito criativo de SAYAT NOVA é de uma ousadia absoluta: filmar a vida de um poeta não como biografia, mas como liturgia. Sergei Parajanov transforma a existência deste filme em uma sucessão de tableaux, quadros-ícones que respiram entre a pintura, a música e o ritual. Cada plano é uma oferenda — mais próximo da oração que da narrativa linear.
A vida do poeta é evocada em fragmentos: a infância entre livros e cores, a iniciação amorosa, o claustro monástico, a morte. Mas não há psicologia nem drama clássico. O que vemos são símbolos, rituais e gestos coreografados que elevam a experiência ao domínio do mito. As romãs que sangram, os tecidos que se multiplicam, as figuras imóveis em composição rigorosa: tudo se organiza como uma memória sagrada que resiste ao esquecimento.
O cinema de Parajanov reinventa a imagem como rito da memória. Aqui, recordar não é reconstruir o passado, mas invocar a sua força espiritual. A montagem não encadeia acontecimentos — articula ícones, como numa liturgia ortodoxa, em que a imagem é porta para o invisível.
Ao abolir a lógica narrativa, o filme recusa a biografia ocidental para afirmar um outro modo de existir no ecrã: o da memória que se corporiza em símbolos. SAYAT NOVA é, assim, uma experiência radical sobre o cinema como lugar de ritual, onde a imagem não explica — celebra.
_ENG
Lights in the Cave V Cinema Screenings: “The image as a ritual of memory.”:
“SAYAT NOVA” (“THE COLOR OF POMEGRANATES”) 1969 | M/12 | 1h19’ [URSS]
With Alexandre Braga
SAYAT NOVA questions the very nature of memory: if remembrance is always ritualized, what kind of truth inhabits the image when it appears as icon rather than document? What form of thought emerges when cinema dares to film biography as liturgy, and history as symbolic celebration?
The cycle “LIGHTS IN THE CAVE”, formerly “Reflections on a Philosophy of the Image”, continues with the screening of SAYAT NOVA / The Color of Pomegranates (1969), by Sergei Parajanov, one of the most radical and poetic works in the history of cinema. Rather than narrating the life of the Armenian poet Sayat Nova, the film reinvents biography as a sequence of living icons — visual rituals that celebrate collective memory, religious tradition, and symbolic imagination.
Parajanov constructs each frame as a visual rite, where color, gesture, and object become signs of a spirituality that transcends realism and brings cinema closer to painting and liturgy. The image ceases to be representation and becomes offering: it does not tell, but celebrates; it does not explain, but invokes.
After the screening, we invite the audience to an open conversation on themes such as the image as a ritual of memory, the dialogue between cinema and religious iconography, and the way Parajanov transforms biography into a mythical and timeless experience..
The creative concept of The Color of Pomegranates is utterly bold: to film the life of a poet not as biography, but as liturgy. Sergei Parajanov turns the existence of Sayat Nova into a succession of tableaux, living icons that breathe between painting, music, and ritual. Each frame is an offering — closer to prayer than to linear narrative.
The poet’s life is evoked in fragments: childhood among books and colors, the awakening of love, the monastic retreat, death. Yet there is no psychology, no classical drama. What unfolds are symbols, rituals, and choreographed gestures that elevate experience into the realm of myth. Pomegranates that bleed, textiles that multiply, figures frozen in strict composition — everything is arranged as sacred memory resisting oblivion.
Parajanov’s cinema reinvents the image as a rite of memory. To remember, here, is not to reconstruct the past but to invoke its spiritual force. Montage does not connect events — it articulates icons, as in Orthodox liturgy, where the image is a gateway to the invisible.
By abolishing narrative logic, the film rejects Western biography and asserts another mode of being onscreen: that of memory embodied in symbols. The Color of Pomegranates is thus a radical meditation on cinema as ritual, where the image does not explain — it celebrates.

Alexandre iniciou seus estudos em música desde a infância, mas escolheu direcionar-se para a comunicação e o cinema ao ingressar na universidade, ainda em sua cidade natal, São Paulo (Brasil). Na época, trabalhou com produção e realização de spots publicitários. Anos depois de lançar seu primeiro curta-metragem de ficção, mudou-se para Lisboa (Portugal), onde fundou a BASE Comunicação Audiovisual, uma agência de comunicação audiovisual, gerindo contas especializadas de diversas marcas e produtos, enquanto com ideias mais artísticas, dedicou-se ao universo do poetry film, da ficção e do drama.
Retomando também suas atividades acadêmicas, e após fazer o mestrado em Desenvolvimento de Projeto Cinematográfico com especialização em Narratologia e Narrativas Cinematográficas concluiu o doutoramento em Ciências da Comunicação também com especialização em Cinema na Universidade Nova de Lisboa e atua hoje como investigador no IFILNOVA - Instituto de Filosofia da NOVA. Atualmente, também é professor de Comunicação Audiovisual em uma renomada escola profissional em Lisboa e é convidado frequentemente para ser consultor de histórias que procuram o seu êxito junto do espectador cinematográfico. Seu mais recente e atual projeto, focado em promover a partilha de narrativas como um meio de autocuidado terapêutico, foi a fundação da PROSA Plataforma Cultural, um espaço aberto à comunidade com atividades que utilizam o poder transformador das artes narrativas e visuais. Lá, com a sua curadoria e com a criação de um extenso grupo de espectadores de cinema, faz-se semanalmente a exibição de ciclos de cinema e filmes, seguidos de debates e análises.
(Filmografia)
"O amor, quando sopra", 6'30'' - 1988
"Mickey", 18’ - 1992
"Buritizal", 39' - 2008
"(Ce n'est pas une) Chanson d'Amour", 09'30'' - 2009
"Fiapo", 5' - 2010
"Um Fiapo de Homem" (Remixes), 3'/7' - 2011
"Devolvendo Isabel", 11’ - 2012
"Meu Pássaro", 15’ - 2017
25 de outubro, às 19h30
Mín.: 4 participantes
Máx.: 16 participantes
Horário IV Edição:
3€
0€*
*Valores para membros Prosa.
Valores: