Conversas com Cinema© apresenta:

Ciclo Luzes na Caverna VI:
”A imagem como decomposição do tempo.”
:
“SÁTÁNTANGÓ” (4 partes)
1994 | 2h20’ [HG\DE\CH]
De Béla Taar

Jovens e Adultos
Com Alexandre Braga

”A imagem como decomposição do tempo.”:
“SÁTÁNTANGÓ”
(4 partes)
1994 | M/12 | +/-2h30’ [HG\DE\CH]
De Béla Taar

Spoken in Hungarian | Subtitled in English

SÁTÁNTANGÓ dissolve a linearidade do tempo até o limite da percepção: cada gesto, cada passo, arrasta consigo o peso do que já foi e o prenúncio do que ainda não aconteceu. Que espécie de verdade resta quando o tempo se torna matéria visível e a duração, em vez de medir o movimento, o consome? Que forma de consciência emerge quando o cinema se entrega à lentidão como forma radical de resistência ao esquecimento?

O ciclo “LUZES NA CAVERNA”, outrora “Pensamentos sobre uma Filosofia da Imagem”, prossegue com a exibição de SÁTÁNTANGÓ (1994), de Béla Tarr, uma das obras mais monumentais e hipnóticas do cinema contemporâneo. Baseado no romance de László Krasznahorkai, o filme acompanha o desmoronar de uma comunidade rural perdida entre o apocalipse e a estagnação, num tempo que parece ter deixado de avançar.

Filmado em longos planos-sequência e num preto e branco espectral, SÁTÁNTANGÓ transforma a espera e a repetição em matéria de revelação. O tempo não é aqui um meio, mas o próprio acontecimento: um corpo que se decompõe lentamente diante da câmara. Tarr não filma o movimento, mas a persistência — o peso da existência que resiste à dissolução.

Após a projeção, propomos uma conversa aberta com o público sobre temas como a imagem enquanto duração espiritual, a lentidão como gesto político e a possibilidade de um cinema que, ao decompor o tempo, devolve-nos a experiência do real em estado bruto.

O conceito criativo de SÁTÁNTANGÓ é o de uma decomposição radical do tempo. Béla Tarr transforma a duração em matéria viva, onde cada plano é um organismo que respira, apodrece e renasce diante do olhar. O filme não narra: arrasta. Os corpos caminham, esperam, voltam a caminhar — e nesse movimento mínimo, o mundo inteiro se desmorona.

Ao longo das suas sete horas, SÁTÁNTANGÓ expõe o colapso de uma comunidade rural abandonada após o fim do socialismo. Mas o que está em jogo vai além da política: é a própria experiência da espera, da ruína e da sobrevivência. A chuva incessante, o vento, o lodo, o som das vacas e o rumor do tango que nunca cessa — tudo se torna coreografia da entropia.

A câmara de Tarr não observa a ação: contempla o tempo em estado de decomposição. Cada plano-sequência é um círculo que se repete, um purgatório onde o tempo deixa de medir a vida e passa a consumi-la. A montagem, quase invisível, transforma a duração em vertigem; o tempo deixa de fluir e começa a pesar.

SÁTÁNTANGÓ é, assim, uma meditação sobre a imagem enquanto resistência à pressa e à morte. Ao decompor o tempo, Tarr devolve ao cinema a sua dimensão litúrgica — não a de um rito de redenção, mas a de um lento e hipnótico funeral do mundo.

_ENG

Lights in the Cave VI Cinema Screenings: “The image as the decomposition of time.”:
“SÁTÁNTANGÓ” (4 parts) 1994 | +/-2h30’ [HG\DE\CH] By Béla Taar
With Alexandre Braga

SÁTÁNTANGÓ dissolves the linearity of time to the very limit of perception: every gesture, every step carries the weight of what has already been and the omen of what is yet to come. What kind of truth remains when time itself becomes visible matter and duration, instead of measuring movement, consumes it? What form of consciousness emerges when cinema surrenders to slowness as a radical act of resistance against forgetting?

The cycle “Lights in the Cave”, formerly “Thoughts on a Philosophy of the Image”, continues with the screening of SÁTÁNTANGÓ (1994), by Béla Tarr, one of the most monumental and hypnotic works in contemporary cinema. Based on the novel by László Krasznahorkai, the film follows the collapse of a rural community lost between apocalypse and stagnation, in a time that seems to have ceased to move forward.

Filmed in long takes and spectral black and white, SÁTÁNTANGÓ transforms waiting and repetition into matter for revelation. Time here is not a medium but the event itself — a body that slowly decomposes before the camera. Tarr does not film movement but persistence: the weight of existence that resists dissolution.

After the screening, we invite the audience to an open conversation on themes such as the image as spiritual duration, slowness as a political gesture, and the possibility of a cinema that, by decomposing time, restores to us the experience of the real in its raw state.

The creative concept of SÁTÁNTANGÓ is that of a radical decomposition of time. Béla Tarr transforms duration into living matter, where each shot is an organism that breathes, decays, and is reborn before our eyes. The film does not narrate — it drags. Bodies walk, wait, and walk again — and within this minimal movement, the entire world collapses.

Over its seven hours, SÁTÁNTANGÓ exposes the disintegration of a rural community abandoned after the end of socialism. But what is at stake goes beyond politics: it is the very experience of waiting, of ruin, of survival. The ceaseless rain, the wind, the mud, the sound of cattle, and the endless tango — all become a choreography of entropy.

Tarr’s camera does not observe action; it contemplates time in a state of decomposition. Each long take is a circle that repeats itself, a purgatory where time ceases to measure life and begins to consume it. The almost invisible editing turns duration into vertigo; time no longer flows — it weighs.

SÁTÁNTANGÓ is, therefore, a meditation on the image as resistance to haste and death. By decomposing time, Tarr restores to cinema its liturgical dimension — not as a rite of redemption, but as a slow and hypnotic funeral of the world.

Alexandre iniciou seus estudos em música desde a infância, mas escolheu direcionar-se para a comunicação e o cinema ao ingressar na universidade, ainda em sua cidade natal, São Paulo (Brasil). Na época, trabalhou com produção e realização de spots publicitários. Anos depois de lançar seu primeiro curta-metragem de ficção, mudou-se para Lisboa (Portugal), onde fundou a BASE Comunicação Audiovisual, uma agência de comunicação audiovisual, gerindo contas especializadas de diversas marcas e produtos, enquanto com ideias mais artísticas, dedicou-se ao universo do poetry film, da ficção e do drama.

Retomando também suas atividades acadêmicas, e após fazer o mestrado em Desenvolvimento de Projeto Cinematográfico com especialização em Narratologia e Narrativas Cinematográficas concluiu o doutoramento em Ciências da Comunicação também com especialização em Cinema na Universidade Nova de Lisboa e atua hoje como investigador no IFILNOVA - Instituto de Filosofia da NOVA. Atualmente, também é professor de Comunicação Audiovisual em uma renomada escola profissional em Lisboa e é convidado frequentemente para ser consultor de histórias que procuram o seu êxito junto do espectador cinematográfico. Seu mais recente e atual projeto, focado em promover a partilha de narrativas como um meio de autocuidado terapêutico, foi a fundação da PROSA Plataforma Cultural, um espaço aberto à comunidade com atividades que utilizam o poder transformador das artes narrativas e visuais. Lá, com a sua curadoria e com a criação de um extenso grupo de espectadores de cinema, faz-se semanalmente a exibição de ciclos de cinema e filmes, seguidos de debates e análises.

(Filmografia)

"O amor, quando sopra", 6'30'' - 1988
"Mickey", 18’  - 1992
"Buritizal", 39' - 2008
"(Ce n'est pas une) Chanson d'Amour", 09'30'' - 2009
"Fiapo", 5' - 2010
"Um Fiapo de Homem" (Remixes), 3'/7' - 2011
"Devolvendo Isabel", 11’ - 2012
"Meu Pássaro", 15’ - 2017

29 de novembro, às 19h30

Mín.: 4 participantes
Máx.: 16 participantes

Horário IV Edição:

3€
0€*

*Valores para membros Prosa.

Valores: