Conversas com Cinema© apresenta:
Ciclo Luzes na Caverna VII:
”A imagem como encarnação do visível.”:
“IL VANGELO SECONDO MATTEO”
1964 | 2h17’ [IT\FR]
De Pier Paolo Pasolini
Jovens e Adultos
Com Alexandre Braga
”A imagem como encarnação do visível.”:
“IL VANGELO SECONDO MATTEO”
1964 | 2h17’ [IT\FR]
De Pier Paolo Pasolini
Spoken in Italian | Subtitled in English
IL VANGELO SECONDO MATTEO despoja o sagrado da sua distância e devolve-o ao terreno áspero da realidade: cada palavra, cada rosto, carrega o peso de uma revelação que não precisa de milagres para existir. Que forma de verdade persiste quando o divino se torna corpo e poeira, e a imagem, em vez de exaltar o mistério, o encarna? Que tipo de consciência desperta quando o cinema se entrega ao rigor do real como gesto político de devolver ao mundo a sua própria humanidade?
O ciclo “LUZES NA CAVERNA”, outrora “Pensamentos sobre uma Filosofia da Imagem”, prossegue com a exibição de IL VANGELO SECONDO MATTEO (1964), de Pier Paolo Pasolini, uma das interpretações mais singulares, austere e profundamente humanas da figura de Cristo no cinema moderno. Baseado no Evangelho segundo Mateus, o filme acompanha a caminhada de Jesus entre os pobres, os inquietos e os esquecidos — uma revolução ética inscrita na poeira dos caminhos e no olhar dos que o seguem.
Filmado com atores não profissionais, numa cadência neorrealista e com uma secura visual que roça o sagrado, IL VANGELO SECONDO MATTEO transforma a palavra em gesto e o gesto em revelação. O sagrado não desce do céu: emerge da terra, dos rostos, das rugas, da dureza das paisagens. Pasolini não filma o milagre, mas a presença — a força bruta de uma fé que se faz corpo e comunidade.
Após a projeção, propomos uma conversa aberta com o público sobre temas como a imagem enquanto encarnação, o olhar político de Pasolini sobre o sagrado e a possibilidade de um cinema que, ao despojar o divino da retórica, nos devolve a vertigem da sua humanidade essencial.
O conceito criativo de IL VANGELO SECONDO MATTEO é o de uma revelação radical do humano no sagrado. Pasolini transforma a palavra bíblica em matéria viva, onde cada rosto, cada rugosidade da pele, cada silêncio, pulsa como um fragmento de verdade encarnada. O filme não ilustra: anuncia. As figuras caminham, pregam, olham, tocam — e nesses gestos despojados, uma revolução espiritual e terrena ganha forma.
Ao longo das suas duas horas, IL VANGELO SECONDO MATTEO acompanha a vida de Cristo não como mito distante, mas como presença física que irrompe num mundo de camponeses, mães, trabalhadores e profetas. A política não é aqui metáfora: é carne. A pobreza, o deserto, a poeira, os cânticos, o fervor das multidões — tudo se torna matéria de uma espiritualidade concreta, feita de corpos reais e urgências presentes.
A câmara de Pasolini não observa a transcendência: encarna-a. Cada plano, seco e frontal, opera como um ícone inquieto, onde o divino se revela por excesso de realidade. O realismo quase documental, contraposto à música litúrgica e às palavras de Cristo, cria um choque sensorial em que a imagem deixa de representar e começa a arder — como se a verdade só pudesse surgir quando a forma se aproxima do fogo da profecia.
IL VANGELO SECONDO MATTEO é, assim, uma meditação sobre a imagem enquanto encarnação e resistência à domesticação religiosa. Ao despir Cristo de ornamentos, Pasolini devolve ao cinema a sua potência primitiva: não a de um rito de devoção, mas a de um corpo que caminha entre nós, exigindo que olhemos de novo para o mundo e para aquilo que ainda pode ser verdade.
_ENG
Lights in the Cave VII Cinema Screenings: “The image as the incarnation of the visible.”:
“IL VANGELO SECONDO MATTEO” 1964 | 2h17’ [IT\FR]
By Pier Paolo Pasolini
With Alexandre Braga
IL VANGELO SECONDO MATTEO strips the sacred of its distance and brings it back to the rough ground of reality: every word, every face, carries the weight of a revelation that needs no miracles to exist. What kind of truth persists when the divine becomes dust and body, and the image, instead of exalting mystery, embodies it? What form of consciousness emerges when cinema commits itself to the rigour of the real as a political gesture — returning to the world the depth of its own humanity?
The “LUZES NA CAVERNA” cycle, formerly “Thoughts on a Philosophy of the Image,” continues with the screening of IL VANGELO SECONDO MATTEO (1964), by Pier Paolo Pasolini, one of the most singular, austere, and profoundly human interpretations of Christ in modern cinema. Based on the Gospel according to Matthew, the film follows Jesus as he walks among the poor, the restless, and the forgotten — an ethical revolution inscribed in the dust of the roads and in the eyes of those who follow him.
Filmed with non-professional actors, in a neorealist cadence and with a visual starkness that grazes the sacred, IL VANGELO SECONDO MATTEO transforms the word into gesture and the gesture into revelation. The sacred does not descend from heaven: it rises from the earth, from faces, from wrinkles, from the harshness of the landscapes. Pasolini does not film the miracle, but the presence — the raw force of a faith that becomes body and community.
After the screening, we invite the audience to an open conversation on themes such as the image as incarnation, Pasolini’s political gaze on the sacred, and the possibility of a cinema that, by stripping the divine of rhetoric, returns to us the vertigo of its essential humanity.
The creative concept of IL VANGELO SECONDO MATTEO is that of a radical revelation of the human within the sacred. Pasolini turns the biblical word into living matter, where every face, every wrinkle of the skin, every silence pulses as a fragment of embodied truth. The film does not illustrate; it proclaims. Figures walk, preach, look, touch — and in these stripped-down gestures, a spiritual and earthly revolution takes shape.
Across its two hours, IL VANGELO SECONDO MATTEO follows the life of Christ not as distant myth but as a physical presence moving among peasants, mothers, workers, and prophets. Politics is not metaphor here: it is flesh. Poverty, the desert, dust, chants, the fervour of the crowds — all become the substance of a concrete spirituality, grounded in real bodies and urgent realities.
Pasolini’s camera does not observe transcendence; it incarnates it. Each stark, frontal shot functions as a restless icon in which the divine reveals itself through an excess of reality. The almost documentary realism, juxtaposed with liturgical music and the words of Christ, produces a sensory shock in which the image ceases to represent and begins to burn — as if truth could only emerge when form approaches the fire of prophecy.
Thus, IL VANGELO SECONDO MATTEO becomes a meditation on the image as incarnation and as resistance to religious domestication. By stripping Christ of ornament, Pasolini returns to cinema its primitive force: not that of a devotional rite, but of a body walking among us, demanding that we look again at the world — and at what might still be true within it.
Alexandre iniciou seus estudos em música desde a infância, mas escolheu direcionar-se para a comunicação e o cinema ao ingressar na universidade, ainda em sua cidade natal, São Paulo (Brasil). Na época, trabalhou com produção e realização de spots publicitários. Anos depois de lançar seu primeiro curta-metragem de ficção, mudou-se para Lisboa (Portugal), onde fundou a BASE Comunicação Audiovisual, uma agência de comunicação audiovisual, gerindo contas especializadas de diversas marcas e produtos, enquanto com ideias mais artísticas, dedicou-se ao universo do poetry film, da ficção e do drama.
Retomando também suas atividades acadêmicas, e após fazer o mestrado em Desenvolvimento de Projeto Cinematográfico com especialização em Narratologia e Narrativas Cinematográficas concluiu o doutoramento em Ciências da Comunicação também com especialização em Cinema na Universidade Nova de Lisboa e atua hoje como investigador no IFILNOVA - Instituto de Filosofia da NOVA. Atualmente, também é professor de Comunicação Audiovisual em uma renomada escola profissional em Lisboa e é convidado frequentemente para ser consultor de histórias que procuram o seu êxito junto do espectador cinematográfico. Seu mais recente e atual projeto, focado em promover a partilha de narrativas como um meio de autocuidado terapêutico, foi a fundação da PROSA Plataforma Cultural, um espaço aberto à comunidade com atividades que utilizam o poder transformador das artes narrativas e visuais. Lá, com a sua curadoria e com a criação de um extenso grupo de espectadores de cinema, faz-se semanalmente a exibição de ciclos de cinema e filmes, seguidos de debates e análises.
(Filmografia)
"O amor, quando sopra", 6'30'' - 1988
"Mickey", 18’ - 1992
"Buritizal", 39' - 2008
"(Ce n'est pas une) Chanson d'Amour", 09'30'' - 2009
"Fiapo", 5' - 2010
"Um Fiapo de Homem" (Remixes), 3'/7' - 2011
"Devolvendo Isabel", 11’ - 2012
"Meu Pássaro", 15’ - 2017
20 de dezembro, às 19h30
Mín.: 4 participantes
Máx.: 16 participantes
Horário VII Edição:
3€
0€*
*Valores para membros Prosa.
Valores:

