Com poucos dias de diferença, em maio de 2011, dois filmes de grande profundidade foram lançados - The Tree of Life, de Terrence Malick, e Melancholia, de Lars von Trier - que chamaram a atenção de muitos espectadores por formarem uma díade complementar, apesar de suas orientações aparentemente opostas. Um filme nos apresenta imagens da origem do mundo, enquanto o outro filme narra o seu fim; um levanta partes significativas do seu diálogo diretamente das páginas religiosas da Bíblia, Santo Agostinho e Kierkegaard, enquanto o outro parece dramatizar uma parábola ateísta, nietzschiana; enquanto um implora-se ao espectador que veja algo além da imanência do mundo; o outro insiste que não há nada além dele.

Apesar de seguirem caminhos aparentemente opostos, The Tree of Life e Melancholia estão, no entanto, unidos na maneira como se relacionam a desafiar a narrativa iluminista que dominou o pensamento ocidental nos últimos quatro séculos. Em particular, eles exemplificam poderosamente o que na filosofia recente e na teoria crítica veio a ser chamado de condição "pós-secular". The Tree of Life e Melancholia podem ser concebidas como duas pontas de um espectro que caracteriza o pós-secularismo hoje. A perda de confiança na suposta certeza da razão e na neutralidade do secularismo encontra inúmeras articulações, que vão desde a reflexão ponderada sobre a fé em The Tree of Life até o ateísmo não triunfalista de Melancholia. De facto, ao longo dos últimos anos, uma série de outros filmes e cineastas têm demarcado posições dentro do intervalo delimitado pelos filmes de Malick e von Trier. A noção de cinema pós-secular é bastante elástica. O termo captura o trabalho daqueles cineastas cujos filmes pairam explicitamente sobre aquela zona cinzenta que dissolve os limites estritos que muitas vezes se estabelecem entre a crença e a descrença. Malick e von Trier neste sentido, são verdadeiramente exemplares. (…)

John Caruana e Mark Cauchi em “ What Is Postsecular Cinema” (Trecho)
From “IMMANENT FRAMES - Postsecular Cinema between Malick and von Trier”
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