Cinema PROSA

Ciclo
PENSO LOGO ESCREVO I

["I THINK, THEREFORE I WRITE I" Cinema Screenings]

PENSO LOGO ESCREVO é o nome da oficina de Escrita Criativa que a PROSA propõe como espaço de escuta interior e criação de ficção, partindo de um olhar para a narratologia e para a representação do real. Trata-se de exercitar uma escrita que nos ponha em contacto com o ‘si próprio’ — esse ser que ora se revela em nós, ora no outro —, construindo linguagem como quem constrói um lugar. Escrever é um gesto de busca, uma procura do ser. Um ato liberto que, para além de aprimorar competências comunicativas, se apresenta como um instrumento de cuidado, de resistência e de reinvenção de si mesmo. Num mundo cada vez mais exigente em criatividade, escrever é também uma forma de subsistência — emocional, simbólica e, por vezes, física.

A escrita, neste contexto, aproxima-se do corpo e do tempo como matéria sensível. É um exercício muscular, feito de fluxo, hesitação e impulso. Escrever é entrar num ritmo, num traço, numa pulsação que nos inscreve no mundo com identidade, com poesia, com memória. E cada pessoa encontrará o seu caminho: seja através de um diário íntimo, de uma ficção elaborada, de uma carta nunca enviada, de um poema abrupto ou de uma ideia em construção. A oficina convida a este gesto inaugural e libertador de começar. De reescrever-se.

Entre a escrita e o cinema existe uma conversa constante, por vezes silenciosa, por vezes explosiva. Ambas as linguagens operam montagens do real, criando sentidos e fabulações. Ambas trabalham com estruturas narrativas, imagens e personagens. O cinema pode ser visto como um prolongamento visual da escrita — ou a escrita como o seu esboço primordial. Quando um filme se aproxima da escrita não apenas como conteúdo, mas como forma, algo de fascinante acontece: a linguagem torna-se visível, o texto adquire corpo, e o corpo torna-se texto.

É precisamente isso que The Pillow Book (1995), de Peter Greenaway, nos oferece. Inspirado no livro homónimo da dama de companhia japonesa Sei Shōnagon — escrito no século X como um conjunto de anotações, observações e listas sobre a vida quotidiana na corte imperial —, o filme funde caligrafia, pele e desejo. Nesta obra singular, a escrita deixa de ser apenas um registo e transforma-se em ritual visual e sensual. A efemeridade da tinta na pele, o gesto da escrita como contacto físico e íntimo, evoca a ideia de que tudo o que escrevemos está em constante dissolução — mas nem por isso deixa de ser real.

Greenaway constrói uma obra que é também uma reflexão sobre a própria arte de contar histórias: entre o efémero e o permanente, entre a caligrafia e a memória, entre a tradição e a tecnologia. A personagem de Nagiko escreve sobre os corpos, como forma de afirmação pessoal e estética, e nesse acto reivindica o direito de narrar-se a si mesma. É um filme que atravessa línguas, culturas e suportes — como a própria escrita, que atravessa o tempo, mas nunca deixa de ser do agora. Ao vê-lo, e ao escrever, talvez nos descubramos também inscritos no mundo com mais nitidez.

(Curadoria de Alexandre Braga)


“THE PILLOW BOOK” 1995 | M/16 | 2h 06’ [UK] (O Livro de Cabeceira - PT)
De Peter Greenaway
Sábado Dia 05/04 às 19h30

Uma mulher com um fetiche pela escrita corporal procura encontrar um amante e calígrafo.
A woman with a body-writing fetish seeks to find a combined lover and calligrapher.


Todos os filmes do Cinema PROSA serão exibidos em pixel iluminado (ecrã QLED 65’’) em sala condicionada ao máximo de 24 espectadores.
Preçário

Membros: Entrada livre.
Não-membros: 3€

Trailers aqui: