Rushmore (1998), de Wes Anderson, e Election (1999), de Alexander Payne, são dois filmes dos anos 90 que exploram a adolescência e as dinâmicas de poder dentro do ambiente escolar, cada um à sua maneira e com um estilo bem próprio. Em Rushmore, seguimos a vida de Max Fischer, um estudante excêntrico e hiperativo que, apesar do seu desempenho académico pobre, é o presidente de inúmeros clubes e atividades extracurriculares numa prestigiada escola. A narrativa complica-se quando Max se apaixona por uma professora e entra numa competição intensa com um empresário, também interessado por ela. Em Election, Alexander Payne conta a história de Tracy Flick, uma ambiciosa estudante que concorre para presidente do associação de estudantes, e do seu professor, Jim McAllister, que vê em Tracy tudo o que odeia no sucesso fácil e decide sabotá-la ao incentivar outro aluno a concorrer.

Para Wes Anderson, Rushmore representou um ponto de viragem, marcando o início de uma estética que viria a definir toda a sua filmografia. Anderson apresenta um universo estilizado, com cores vivas e simetria em cada enquadramento, trazendo uma profundidade emocional que transformou este filme numa das suas obras mais marcantes e um antecessor dos seus futuros trabalhos, onde a sátira e o humor melancólico se encontram. Os temas da excentricidade, obsessão e o sentimento de pertença são aqui explorados, sendo Max Fischer um exemplo perfeito de uma juventude inquieta: movido por uma constante busca de aceitação e identidade, ele tenta preencher o vazio existencial com um turbilhão de atividades e paixões, enquanto se confronta com as duras realidades da rejeição e do fracasso. 

Em Election, Alexander Payne explora o humor sarcástico, mordaz e incisivo, características que viriam a definir grande parte da sua obra. O filme examina a ambição, a corrupção e o impacto da moralidade no contexto escolar, abordando as dinâmicas de poder de forma tão profunda quanto divertida. Tracy Flick, a jovem inquieta, tornou-se um ícone de ambição desenfreada e política estudantil, determinada a ultrapassar qualquer obstáculo à sua frente, enquanto o professor Jim representa o desencanto e a hipocrisia dos adultos. Election é um marco no cinema de Payne pela forma como expõe as falhas e complexidades humanas, colocando a moralidade em perspetiva e satirizando o sonho americano.

Juventude Inquieta é, assim, o fio condutor entre estes dois filmes, unindo as visões de Anderson e Payne sobre os dilemas e as contradições que definem a adolescência. Ambos os filmes capturam a tensão entre as expectativas e a realidade, com Max Fischer tentando ser maior do que realmente é e Tracy Flick ultrapassando limites éticos para conquistar o sucesso. Embora com abordagens diferentes – o humor poético e estilizado de Anderson versus o sarcasmo direto de Payne –, os dois cineastas revelam uma juventude rebelde e ambiciosa, em busca de algo maior, numa constante procura pela aceitação e uma inquietude entre o desejo de ser e o peso de existir.

(Curadoria de Fábio Sequeira)