Quatro membros, uma cabeça, dois olhos... A maioria dos extraterrestres no cinema são nossos primos afastados. Mas, fugindo a esse lugar comum, encontram-se filmes em dois opostos, e são talvez os que mais souberam usar a infiltração de alteridades além-espaço para melhor apontar a estranheza aqui entre os terrestres.
De um lado temos os filmes que nos apresentam o alienígena como “ele está entre nós”, com aparência humana, o que nem por isso disfarça a sua estranheza. Outras obras optaram por tornar invisível esse “outro que veio do espaço”, ao ponto de o situar além de toda a comunicação.

No primeiro grupo estão “Invasion of the Body Snatchers”, que aqui apresentamos na versão original de 1956, por Don Siegel, e já deste século, o “Under the Skin”, do Jonathan Glazer (2013).

O filme de Don Siegel propõe-nos uma planta híbrida, entre o animal e o vegetal, com capacidade de reprodução, mas não de si própria. Num ambiente que é herdeiro do filme policial, ou noir, quando o sci-fi ainda estava a construir-se enquanto género, nada é o que parece em “Invasion of the Body Snatchers”.
A ambiguidade da narrativa cresce numa tensão emocional – em contraste com os invasores – até nos deixar no limbo entre paranóia e infiltração conspirativa. A substituição de humanos é aqui uma poderosa metáfora, com vários sentidos e tão atual no século XXI.

Em “Under the Skin”, Jonathan Glazer, o ‘outro’ alienígina incorpora uma mulher humana (bela, talvez, numa Scarlett Johansson) que lentamente, experiencia a nossa condição humana e que ao longo do filme irá questionar-se acerca da nossa capacidade de empatia e da sua atitude inicial como uma predadora que tira partido das emoções humanas.

“The Andromeda Strain” (1971) apresenta-nos outro híbrido – um extraterrestre microscópico com uma estrutura mineral. Sem rosto nem alma, é contra este vírus do espaço que se edifica outro organismo, noutra escala: o esforço coletivo coordenado de uma complexa colaboração científica.Com argumento do mesmo autor de “Parque Jurássico” e os efeitos especiais do mesmo designer de “2001 – Odisseia no Espaço”, esta outra grande produção está cheia de ação, mas de um tipo invulgar: numa corrida contra o tempo, equipas de cientistas num laboratório high-tech realizam experiências laboratoriais em paralelo, cruzam dados, lançam hipóteses e discutem sob vários ângulos a estranha forma de vida mortal que lhes surge ao microscópio.

Num exercício de olhar para o ‘outro’ nestes nossos ciclos de cinema, oferecemos aqui um aumento de amplitude, visto que este contacto até pode estar breve para acontecer.

Vem!