Em consonância com o espírito do Dia Internacional da Música, celebrado no dia 1 de outubro, e seguindo o sucesso do nosso ciclo DO TEATRO PARA O CINEMA, COM AMOR, exibido no ano passado, apresentamos com entusiasmo o Ciclo DA MÚSICA PARA O CINEMA, COM AMOR. Esta iniciativa convida-nos a explorar a intersecção entre o cinema e a música, um território onde as artes se entrelaçam, e os artistas/compositores emergem como protagonistas de uma narrativa que ultrapassa as barreiras do tempo e das ideologias.

Através da lente do cinema, mergulhamos nas vidas de dois gigantes da música clássica: Dmitri Shostakovich e Ludwig van Beethoven. Ambos são retratados não apenas como criadores de obras imortais, mas como seres humanos que enfrentam os desafios da criação artística em contextos de intensas pressões ideológicas, políticas e pessoais. Este ciclo, mais do que uma homenagem, é uma reflexão sobre a natureza da criação musical e sobre como o cinema, como uma arte intermodal, tem a capacidade única de explorar e reinterpretar a essência de outras formas de expressão artística.

Neste âmbito, mostramos "TESTIMONY" (1987), dirigido por Tony Palmer: um retrato intimista e perturbador de Dmitri Shostakovich, um compositor que viveu e criou sob a opressiva sombra do regime soviético e influência direta de Estaline. A obra, baseada nas controversas memórias de Shostakovich, revela o conflito profundo entre a sua criatividade exuberante e a necessidade de sobreviver num sistema onde a música era tanto uma arma política quanto uma expressão pessoal. O filme explora as nuances de um homem dividido entre a sua integridade artística e a conformidade forçada, oferecendo-nos uma janela para o coração de um dos mais importantes compositores do século XX.

"IMMORTAL BELOVED" (1994), de Bernard Rose, traz à tela a vida turbulenta de Ludwig van Beethoven, cuja genialidade musical é inegável, mas cujas batalhas pessoais e emocionais muitas vezes se tornaram tão célebres quanto as suas composições. O filme navega pelas paixões, amores e tormentos que moldaram a sua obra, numa busca incansável pela identidade da misteriosa "Amada Imortal". Através de uma narrativa envolvente, somos levados a questionar as fronteiras entre a genialidade e a loucura, a criação e a destruição, e como estas forças antagónicas moldam a obra de um artista.

O cinema, ao abordar o mundo da música, oferece-nos uma nova perspectiva sobre a vida e a obra destes compositores, permitindo-nos compreender melhor as forças que os moldaram e as dificuldades que enfrentaram ao criar obras que resistiram ao teste do tempo. No contexto atual, onde as artes enfrentam constantes desafios, este ciclo serve como um lembrete da importância de preservar e celebrar a interconexão entre diferentes formas de expressão artística.

Convidamo-lo a participar no Ciclo DA MÚSICA PARA O CINEMA, COM AMOR, uma jornada cinematográfica que não apenas honra os compositores retratados, mas também celebra o poder do cinema de iluminar, através da sua própria linguagem, os conflitos, paixões e desafios enfrentados por estes gigantes da música. Aqui, o cinema torna-se mais do que uma janela para o passado; torna-se uma ponte entre as artes, inspirando-nos a pensar e a sentir a música de uma forma completamente nova.

(Curadoria de Alexandre Braga)